A ignorância do povo é um dos
maiores inimigos da Democracia.
Para o ignorante tudo é fácil e
óbvio. Quando não se sabe nada, tudo parece simples e acessível.
A ignorância leva a que todas as
coisas que fazem parte do mundo que nos rodeia sejam olhadas com superficialidade
promovendo o facilitismo.
A experiência ensina-nos contudo que
aquilo que parece óbvio é muitas vezes enganador e só um estudo mais profundo
nos aproxima da verdade.
Durante
muitos séculos parecia evidente que o Sol ao começar o dia a nascente e o
terminar a poente circundava a Terra e não o contrário. À medida que nos vamos
questionando sobre o porquê das coisas e descobrindo alguns segredos da ciência,
vamo-nos apercebendo da complexidade do mundo que nos rodeia, acabando por
constatar que quanto mais sabemos, maiores são as nossas dúvidas, tendo sido
com essa percepção que Sócrates (o filósofo grego) afirmou “só sei que nada
sei”.
A ignorância facilita a aceitação de
crendices. Frequentemente o ignorante utiliza conceitos básicos do saber
popular para por em causa informações fornecidas por quem estudou assuntos
complexos durante anos a fio.
A ignorância torna-nos triviais,
básicos, boçais e muitas vezes arrogantes, pois a falta de reconhecimento da
ignorância gera uma certeza sobre factos não provados e que não correspondem de
modo nenhum à realidade.
Um povo ignorante torna-se assim
mais facilmente manipulado por pessoas sem escrúpulos, os quais aldrabam a
realidade de acordo com os gostos e desejos da plateia que lhes deu o púlpito.
Um povo embrutecido
entregue a si próprio só é capaz de gerar miséria e patrocinar o florescer de
aldrabões que o empurram cada vez mais para o fundo. Combater a ignorância é
uma tarefa difícil, pois exige aceitar ser-se ignorante e fazer um esforço para
aprender, de modo a poder ficar mais esclarecido. Infelizmente, os média em vez
de patrocinarem a cultura patrocinam a estupidez, criando uma massa amorfa de
pseudo-esclarecidos. É deprimente ver uma geração a quem o 25 de Abril deu
tanto continuar com a mentalidade tacanha de seus pais e avós.
A ignorância gera um
terreno fértil para o cultivo da mesquinhez e da inveja, pois o ignorante não
consegue compreender o valor do valor das coisas, fazendo tábua rasa daqueles
que se esforçaram para aprender o sumo do conhecimento elaborado ao longo de
séculos pela humanidade, achando que está ao alcance de qualquer um a decisão
de coisas complexas.
A
ignorância leva ao culto do absurdo e à inversão de valores, pondo a
irracionalidade à frente do racional.
Colocar o poder de decisão nas mãos de pessoas
desinformadas não pode gerar os melhores resultados, uma vez essas pessoas não
possuem um nível de conhecimento que lhes permita fazer as escolhas mais
adequadas.
Não se pode levar
muito a mal que num ecossistema dominado por ignorantes alguns tenham que
recorrer a expedientes menos claros para levar a vida, facto que apesar de não
ser correcto é a única forma de sobreviver, pois até Jesus Cristo foi trocado
por Barrabás pelo povo apenas por defender o bem e a solidariedade.
Se temos a ambição de que a
democracia funcione, contribuindo para um aumento da prosperidade da nação, é
necessário que quem decide tenha o melhor nível possível de educação e de
cultura, de modo a não deixar entregue a si próprio um povo que não se
sabe nem se deixa governar.
Não é por acaso que os países mais
desenvolvidos, agora e ao longo da história, são aqueles que possuem um melhor nível
de instrução.
É fundamental investir a sério na
educação do povo, mas sem facilitismos que só visam aldrabar estatísticas e não
geram saber.
A qualidade da democracia está
directamente relacionada com a qualidade do seu povo. Um povo só pode viver em democracia se estiver disponível
para participar e tiver capacidade para escolher as opções que melhor servem o
colectivo, sendo que servir melhor o colectivo é a melhor maneira de servir o
individual. Um barco onde todos remam para o mesmo lado anda mais rápido do que
um onde cada um rema para o seu. Um colectivo fraco entregue a si próprio só
pode gerar pobreza e frustração.
Uma das coisas que considero mais
inquietantes é o facto de actualmente uma grande parte da ignorância não ser por
falta de oportunidade, mas por falta de vontade e excesso de permissividade do
sistema.
O ignorante não entende que o bem-estar
individual é em grande parte dependente do bem-estar comum e se nos alhearmos
das nossas responsabilidades perante o bem comum deixando-o destruir numa
lógica de cada um que se safe, poderá haver meia dúzia a viver bem, mas a
globalidade da população vai viver mal ou muito mal.
Para terminar gostaria de referir
que só existem “chico-espertos” se existirem “chicos-burros” em número suficiente.
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